Este é um tema que tem me interessado já há bastante tempo, principalmente no que tange dança e escrita. Poderia dizer que atualmente tenho entendido o meu arquivo como uma transposição de materialidades, que é sempre constante e que não busca um fim, mas sim estar processo e deixar que esse caminho (entre corpo que dança-escreve) seja o mais rasurado e borrado possível. Deste modo acredito que a minha relação com o arquivo está entre o que chamo de «deixar vestígios», ou seja, deixar pistas para ser encontrado em um futuro próximo ou mundos que ainda estão por vir, mas ao mesmo tempo fazer com estes arquivos/vestígios sejam constantemente atualizados, revistos, re-dançados e até mesmo destruídos por quem se relaciona com eles (seja eu mesmo ou não).

Também como procedimento de criação e transposição de materialidades – corpo-papel-gadget-texto-corpo – trabalho com a noção de que as tecnologias disponíveis para a escrita (seja papel, caneta, computador, celular) também formam esse corpo que performa/escreve/registra/arquiva. Tais metodologias interseccionam diferentes exercícios para articular a coreografia, como ação de escrita do corpo; materialidades/acoplagens; e arquivo/registo de processo criativo de um modo mais fluido e imbricado no corpo atuante. Um exemplo interessante deste processo é justamente uma ação que aconteceu durante a residência no Nave, onde cobrimos uma sala de papel craft e durante duas horas as/os participantes escreveram sem parar no chão, paredes e tetos do espaço e por último desprendemos os papéis e os transformamos em cabeças/próteses de papel e dançamos com elas.