I. Residencia NAVE
PROYECTO SACAR LA LENGUA | 1º ACTO: HARM-ONY (2018)
HARM-ONY: Presentación
In «Cosmopolitical Proposal», Isabelle Stengers returns to the figure of the idiot to think about the political consequences and challenges of slowing down thinking and decision-making. Politics appears here as an activity directed at making present what is absent, opening up space for previously excluded actors, and redesigning coexistence.
According to Stengers, Deleuze’s idiot, borrowed from Dostoievsky and turned into a conceptual character, is the one who always slows the others down, who opens a space for hesitation, opens an interstice, so we don’t consider ourselves authorized to believe we possess the meaning of what we know. She invites us to think of equality not as equivalence, reciprocity, representation, but as a guarantee of the presence of heterogeneous bodies. Moving away from the «good intentions» that sustain the desire for a «common good», she invites us to hear the idiot’s murmur that says: «There is something more important.» And instigates us to think of the possibility of sharing a common that is the unknown constituted by multiple, divergent worlds that could possibly be articulated.
A key suggested by Stengers is speed: slowing down as a condition of possibility for the emergence and recognition of difference and indifference. Rather than concerning with time, the speed here is related to timing, associated with rhythm, urgency, suspension and des-acceleration among other concepts. Speed invites us to reimagine the social as a vector space, in which different bodies, human and nonhuman, are constituted through the direction, intensity, drive, and friction of movements and associations.
There are people who stand on their heads, others who walk slowly and whisper «party!», those who suspend and sing «life is a mistery, everyone must stand alone», there are still those who point and laugh loudly, those who dub voices and bodies of others, those that beat, those who backbend, those who bow, those who dance cheek to cheek and those who would prefer not. Welcome to HARM-ONY.
It is with great joy that we release the crawling spaceship HARM-ONY (no danger of falling because it is already on the ground) in the world. As one colleague told us on the occasion of another premiere «another brick» … but no, we expect this project to be another piano falling from the top floor of a very high building and burst in the dissonant world that we both we try to invent we try to invent we try to invent we try (Levi & Russo)
HARM-ONY is an unstable itinerant ground, a project thought to be a place to work and exchange with local artists, a frame we created to share practices and tools that we developed during the last 11 years.
HARM-ONY is a project that counts on a core of 3 performers – long-time Improvável collaborators – associated to 15 local performers selected by open call. In total, there are 18 performers on stage.
HARM-ONY was developed between Rio de Janeiro and Santiago de Chile.
II. Posvida
HARM-ONY: Entrevista com Levi & Russo por Renata Barros
Renata Barros: O projeto HARM-ONY fez parte da programação do “Seminario Danza Politica y Activismo”, em 2018, no Chile, como 1o ato do projeto “Sacar La Lengua”. Poderiam falar um pouco sobre essa participação e como foi pensado o HARM-ONY lá?
Levi e Russo: HARM-ONY é um projeto de abertura: trabalhamos há 11 anos continuadamente/insistentemente, no Rio de Janeiro, sob o nome de Improvável Produções. “Improvável” porque trabalhar com arte no Rio de Janeiro, sobretudo hoje em dia, é algo que não está suposto acontecer, não é mesmo? Esse projeto prevê a participação de artistas locais. A cada remontagem a peça recebe um elenco diferente, quer dizer, humores, intensidades e vibrações diferentes. A primeira montagem, viabilizada com a coprodução do fundo Iberescena/Funarte e o centro NAVE, aconteceu em Santiago do Chile. Em certo momento, durante os ensaios, uma artista chilena – Jesenia Oblitas – falou: “mesmo não falando a mesma língua, ainda assim é possível construirmos algo juntos” É disso que se trata HARM- ONY, de articular a diferença, a distância.
R.B: Do site specific de HARM-ONY e a arquitetura do Sesc Avenida Paulista, um edifício que tem como proposta a sustentabilidade, a refletividade e transparência: Podemos encontrar um diálogo do espetáculo com o trinômio «ARTE-CORPO-TECNOLOGIA» em um aspecto mais orgânico com a cidade?
L e R: Não vemos muito eco em relação à transparência em nosso trabalho, prezamos a opacidade. Mas estamos animadas em confrontar a transparência do prédio com a opacidade dos corpos. Esperamos que a peça seja entrevista entre um corpo e outro.
Efêmera, portanto sustentável? A dança é efêmera, ou seja, vendemos uma experiência, não um produto funcional com um tempo de vida determinado. A dança, justamente por ser efêmera, impalpável, resta nos corpos expostos a ela. Invade, como um vírus, os corpos que se expõem ao contágio.
R.B: A quebra da palavra “harmony” tem relação direta com a essência do espetáculo?
L e R: Sim! Prezamos muito as quebras! Sem quebra como articular, dobrar, mover? A palavra “harmony” carrega em si a palavra “harm” e isso é muito curioso. Partimos daí: desse encontro da harmonia com o dano. Esse encontro informa e nos encoraja a apostar no dissenso como algo a se praticar em sociedade. Estar em dissenso, ou seja, estar com um outro, conviver.
R.B: Poderiam falar um pouco sobre a seleção de performers e da residência?
L e R: Além da montagem de uma peça de dança, HARM-ONY é um espaço de coexistência entre estranhos. A peça não tem um elenco fixo. A cada remontagem nós + 3 performers membros da Improvável – Ícaro Gaya, Tamires Costa e Lucas Fonseca – fazemos uma chamada pública e selecionamos 15 artistas locais que integrarão o elenco após duas semanas de encontros diários.
R.B: Como é essa relação da dança e a materialidade, trazendo o corpo como ato político? Isso se encaixa em HARM-ONY?
L e R: Esse curioso encontro das palavras «harmonia» e «dano» embalam e instigam essa dança que se vira do avesso para abalar o aparentemente bem intencionado desejo de consenso das «pessoas de bem». Uma sociedade igualitária é aquela em que todos falam a mesma língua? Seria o consenso um ato, em última instância, autoritário?
O dano incrustado na harmonia nos convida a pensar que precisamos de diferença, de fricção, de estranhos, de desarmonia, de «idiotas», daqueles que não compreendemos. Precisamos de Outros, ou seja, daqueles que nos dificultam a chegar rapidamente a uma conclusão do que seria bom ou não para todxs.
De acordo com a filósofa belga Isabelle Stengers, a figura conceitual do “idiota”, proposta por Deleuze, nos faz desacelerar, abre um espaço para a hesitação diante da pressuposição de sabermos daquilo que sabemos. Stengers nos convida a pensar a igualdade não como equivalência, reciprocidade, representação, mas como garantia da presença de línguas/corpos heterogêneos. Se afastando das «boas intenções» que sustentam o desejo de um “bem comum”, nos convida a ouvir o murmúrio do idiota que diz “Há algo mais importante» e nos instiga a pensar na possibilidade de partilha de um “não sabido” constituído pelo múltiplo, pelas posições divergentes de mundo que poderiam eventualmente ser articuladas.
Há gente que se levanta sobre a cabeça, outras que andam vagarosamente e sussurram “party!”, as que suspendem e cantam “life is a mistery, everyone must stand alone”, há ainda as que apontam e riem alto, as que dublam vozes e corpos alheios, as que batem, as que arqueiam, as que bailam cheek to cheek e as que prefeririam não. Bem vindos a HARM-ONY.
III. Colaboración al Archivo
- Fotografías cuaderno (55 fotografías).